terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

COMUNHÃO
(Flávio Leite)

Vou te falar bem baixinho para que você não confunda o som da minha voz:
Aceite essas minhas poesias como um beijo doce no canto do sorriso
E talvez você encontre, bem em frente aos seus olhos carentes, o seu destino.
Lembre-se sempre que o meu coração instável vive procurando o seu ninho

Sem os seus lábios repletos de milagres sou a nascente de um rio sem foz,
Então se deite em meus ombros, por toda essa noite, e me ame sem razão.
Em cada abraço encontraremos estrelas, em cada beijo quente um disco antigo
Onde cada gota de suor derramada em nós seja também a mais bela canção.

Viva, em mim, toda a grandiosidade do que tenho para viver por você
E o infinito, lá onde os deuses mais líricos dormem, estará à sua disposição.
Viva esse amor que a ti guardei, desde o meu nascimento, com todo cuidado
E, enfim saberá o verdadeiro significado, daquilo que chamam de comunhão.
TÃO À FLOR DA PELE
(Flávio Leite)

Sei que, às vezes, sou um tanto passional,
Uns dizem até que sinto mais do que deveria sentir,
Mas isso já existe há trinta e três anos em mim,
Como, de uma hora para outra, poderia me livrar desse mal?

O que eu te disser ou sentir nunca será de forma unilateral,
Pois eu não consigo amar, senão for de forma intensa,
Senão for com simplicidade, de maneira conjugal;
O amor que te ofereço é o jantar que agora te sirvo à mesa.

Posso te ver sem enxergar, te ouvir sem escutar, te sentir sem tocar...
Os poetas são os únicos que vivem assim: tão à flor da pele.
Agora me responda: - O que tem sentido por mim?
Enquanto o coração de alguns bate, o meu ferve.

Eu gritaria para que todos me ouvissem, se fosse possível.
Gritaria que eu faço parte do amor e o amor é a alma minha.
Como não sou capaz de elevar tanto a minha voz,
Deixo o recado em seu ouvido em forma de poesia.
ANJOS ALEIJADOS
(Flávio Leite)

Foi olhando para o que chamam de azul do céu
Que eu descobri que não existe um dia igual ao outro.
Beijando os seus lábios, provando o seu gosto
Descobri, definitivamente, que não há mulher igual.

Quando você fugiu dos meus sonhos
Disse-me que não suportaria uma mulher assim ao meu lado.
Foi uma pena você não ter me dado tempo de explicar
Que o seu temperamento eu engoliria antes mesmo de ter mastigado.

Nossas riquezas e pobrezas teríamos compartilhado,
Se o seu mundo hoje distante não fosse tão longe;
Nossas forças e fraquezas teríamos compartilhado,
Se o seu coração que vai longe não estivesse tão distante.

Estive me procurando por entre as estrelas ontem à noite,
Mas acabei encontrando apenas seus os olhos lacrimejantes.
O seu medo de se arriscar não aleijou apenas um anjo,
Deixou aqui na Terra dois solitários que poderiam ser amantes.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

LÍDIA
(Flávio Leite)

Quem pensa que ela é completamente inocente
Não imagina que ela se masturba em frente à tevê.
Perdida entre as estrelas e as boêmias da vida,
Lídia nunca foi santa e nem nunca conseguiu ser.

Ela se entrega ao primeiro quando se sente sozinha,
E olha que ela está sempre assim: na solidão!
Usa roupas extravagantes, fuma qualquer cigarro,
Toma cerveja, e o que mais vier, em copo de requeijão!

Lídia não é jovem, mas também não é velha.
É apenas mais uma mulher de muitas esquinas,
De hábitos velhos, livros empoeirados, vinis antigos...
Lídia não passa de um cravo tentando ser margarida!

Ela gosta de conversa fiada quando encontra os amigos,
Adora luzes, bares lotados, festa regada à bebida!
Mamãe reclama: - Se cuide mais, filha!
Mas se Lídia se comportasse, ela não seria Lídia!

Ela não é boa moça e nem má,
Ela somente procura em, si mesma, uma saída.
Quem a conhece até acredita,
Mas há mesmo saída para o coração tão profundo de Lídia?
GOLES DE INTROSPECÇÃO
(Flávio Leite)

Uma palavra mal parida e suas vírgulas serão mal interpretadas.
O circo pegou fogo, o palco está vazio, não há platéia.
No aquário outrora repleto de peixes hoje não há mais nada!
Da praia olhei para o mar, mas lá não havia nem golfinhos nem baleias.

O coração que desenho na areia parece mais forte que o meu,
As ondas se arrebentam nas rochas assim como as lágrimas em meu rosto.
O céu está cinza, faz frio, a noite vem chegando,
Resolvo voltar para casa e namorar com alguns livros.

Há cartas de amor amarrotadas na gaveta do criado-mudo,
E uma catástrofe de lembranças nos porta-retratos.
Não há nenhuma alma para conversar. Para onde foi todo mundo?
Faço café, mas prefiro cerveja. Acendo um cigarro que se vai num trago.

As chinelas dormem de cabeça para baixo. Alguém morre?
Se a morte bater na porta de casa a convido
Para um bate-papo de segunda, se hoje não for domingo!
Olho para o ponteiro grande do relógio e ele corre, corre, corre...