sábado, 7 de março de 2009

ANA

ANA
(Flávio Leite)

Ana é simpática, sonhadora e burra. Burra?
Ora, claro, pois os burros não voam!
Burros não sabem negar nada a ninguém:
São mamíferos fadados ao “tudo outra vez”;
São bichos tolos feitos de carne,
À procura do coração de outrem.

O sol que nasce é o mesmo que não se repete,
Mas Ana vê tudo amarelo:
Raios que não aquecem o seu peito.
O vento a beija, todavia Ana não o sente também,
Pois ela anda muito preocupada com o amor ausente,
Com aquele que, em vão, ela chamaria de “Meu Bem”!

Ela insiste na mesmice: faz café, bebe cerveja...
Erro de quem pouco se esforça na peleja.
A vida segue passando, passando,
Mas Ana se tranca em seu quarto,
Ela e todos os seus velhos travesseiros;
Muitos enfeitados e muitos sem qualquer enfeite.

Na estante os mesmos livros, os mesmos retratos...
Ana não se sente bem com tanto descaso.
Vive escondida, por lhe parecer seguro.
E chora baixinho, acuada, sem forças...
Dorme embrulhada, com medo do escuro.
Tudo para manter de pé o seu próprio mundo.

Engraçado, quem sou eu? Quem é Ana?
Talvez um segredo comum ou lágrima embaixo da cama.
Na tevê não passa nada e Ana se estressa, fica magoada.
Eu observo com pena a pequena menina de setembro,
Mas nada posso fazer, já que só o amor poderia curá-la.
Ana sou eu ou ela mesma?

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